Este texto foi inspirado e vem a respeito de mais uma notícia de praxes abusivas. A tal que consistiu em enterrar caloiros na areia e depois “afogá-los” em álcool. Que resultou numa jovem a ter que ser levada para o hospital inconsciente. Uma prática completamente irracional e que não se espera de jovens adultos que estão prestes a ingressar no mercado de trabalho. Onde se espera que eles sejam racionais, competentes, eficazes e sobretudo que não façam coisas estúpidas. E quando falo em irracional quero referir-me aos que praxaram que deveriam perceber que o que fizeram era abusivo e podia acabar mal, e aos praxados que não tiveram capacidade de dizer não e alinharam numa situação completamente disparatada.

Garrafas encontradas no local onde ocorreu a praxe.
A conclusão que eu obtive desta notícia é que se anda a educar “chimpanzés” em pleno séc. XXI – a era da informação e da tecnologia acessível para a maior parte da população dos países desenvolvidos.

Para mim o comportamento destes alunos é sinónimo de que a educação está mesmo muito mal, as escolas, definitivamente que não a dão. Os pais que sempre foram os grandes responsáveis da educação cada vez têm menos tempo para as oferecer e assim as crianças são educadas com os computadores, tablets, televisão e uma escassa minoria por livros.
Quando falo em educação refiro-me sobretudo ao conjunto de regras e saberes que tornam uma pessoa capaz de usar com eficácia a sua mente racional e de se saber comportar na sociedade tornando-se cidadãos com valor numa sociedade.
Eu falo isto porque também sinto que me educaram como um “chimpanzé” quando frequentei o ensino. Era tomem lá esta matéria, têm que saber isto, eu estudava, chegava à altura dos testes ou exames mostrava aquilo que tinha aprendido e quando me esforçava tinha boa nota, quando não me esforçava tinha uma má nota. E assim lá fui passando de ano em ano. Até que chegou a altura em que me disseram – “agora podes ser isto (profissionalmente)”, e lá fui eu com o meu diploma procurar um emprego. É também um sistema de etiquetas, onde se rotulam os alunos de espertos e burros – completamente errado.
Foi em 1995 que Daniel Goleman publicou uma das maiores obras no campo da psicologia – “Inteligência Emocional”. Uma obra que resulta de anos de estudo e experiências na psicologia e educação. Que concluiu que a inteligência emocional contribui muito mais para o sucesso de um indivíduo do que o quociente de inteligência. 20 anos depois os sistemas educativos do mundo ainda não se resolveram a aplicar esta verdade.
Na minha opinião o que falta ao sistema educativo é incutir valores nos estudantes para que eles se tornem racionais, para que a mente primata que por vezes assola o ser humano deixe de comandar as atitudes e decisões. É preciso incutir os conceitos de ética e responsabilidade para que situações como esta deixem de acontecer. Muita gente parece não conseguir discernir o que é certo ou errado.
O caminho tem sido transmitir conhecimento em pacotes de dados, os alunos aplicam-no num teste e passados uns tempos já não sabem nada do que aprenderam porque a memória do ser humano é limitada. Se se seguir o caminho de moldar e otimizar a personalidade dos alunos mantendo as diferenças de carácter, isso será uma educação que prevalecerá pois não é algo que se memorize, é algo que é cultivado e faz crescer os indivíduos enquanto seres racionais.
Leituras sugeridas relacionadas com psicologia e educação:
Inteligência Emocional de Daniel Goleman
O Paradoxo do Chimpanzé de Steve Peters
Mindset de Carol Dweck